Apresentação

Com o peso da Bahia sobre mim — a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias — o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo — a contemporaneidade; criando seus signos-símbolos, procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim. 

– Rubem Valentim

Rubem Valentim iniciou sua produção artística como pintor autodidata no final dos anos 1940. Seus trabalhos unem diversas fontes da herança cultural brasileira, tais como as tradições populares presentes na cerâmica nordestina, as propostas modernistas do Sudeste e a ideia de antropofagia cultural. Em sua obra, o desenvolvimento formal de ideias construtivistas é recriado segundo padrões brasileiros, tanto em termos formais quanto em termos históricos e políticos.

Valentim explora o universo religioso afro-brasileiro, com seus signos e emblemas originalmente geométricos. Esse universo é reorganizado por uma geometria ainda mais rigorosa, composta por linhas horizontais e verticais, triângulos, círculos e cubos. Nesse sentido, o artista desenvolve um repertório pessoal que, com sua noção de espaço pictórico e estudo cromático, abre várias possibilidades. Seu estudo cromático gera uma nova linguagem para os elementos apresentados – uma nova signografia – permitindo a revelação iconográfica de sua obra para aqueles que conhecem ou não as referências das religiões afro-brasileiras. A semiologia presente em sua obra propõe a união do sagrado e do cartesiano, invocando questões espirituais quase que matematicamente.

A fim de retratar de maneira pictórica suas conexões culturais como descendente de afro-brasileiros, Valentim buscou uma linguagem artística capaz de ilustrar a miscigenação cultural brasileira. Elementos aparecem repetidas vezes em seus conjuntos de cores puras e vivas. Para destacar a intensidade cromática, o branco aparece, frequentemente, como plano de fundo. Seu trabalho possui um significado intrínseco de rito e cerimônia, fundindo formas abstratas e geométricas apropriadas do construtivismo.

O trabalho de Valentim torna tangíveis os fatores sócio-políticos e históricos que formam a atual compreensão popular do Brasil. Fatores que ainda ressoam nos dias atuais, como repercussões do processo colonial do século XVI, na América Latina, e do século XIX, na África. Além disso, os trabalhos fazem referência, de forma pungente, à ameaça sempre presente contra uma consciência progressista e humanista durante a ditadura no Brasil, que se reflete também no país em seus dias atuais. Consonante ao movimento modernista na arquitetura brasileira, Valentim morou por muitos anos na até então recente capital, Brasília, tempo em que os valores e idealizações do movimento inspiraram os estudos do artista no que tange principalmente o campo da escultura e seus desdobramentos para uma contra-mão brancusiana, avesso à ideia de escultura como monumento mas como possibilidade móvel.

Rubem Valentim (Salvador, 1922 – São Paulo, 1991).

Valentim viveu no Rio de Janeiro entre 1957 e 1963, onde se tornou professor assistente de Carlos Cavalcanti, lecionando História da Arte no Instituto de Belas Artes. Ele se mudou para Roma em 1963, quando ganhou um prêmio de viagem, obtido no Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM). Em 1966, Valentim participou do Festival Global de Artes Negras, em Dakar. De volta ao Brasil, mudou-se para Brasília e deu aulas de pintura no Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Em 1972, o artista criou um mural de mármore para a sede do governo em Brasília. Em 1979, Valentim esculpiu uma escultura maciça de concreto, instalada na Praça da Sé, em São Paulo, definindo-a como a “Estrutura Sincrética da Cultura Afro-Brasileira”. No mesmo ano, foi escolhido por uma comissão de críticos para produzir cinco medalhões de ouro, prata e bronze como símbolos afro-brasileiros para um importante edifício público. Em 1998, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA) inaugurou a Sala Especial Rubem Valentim, no Parque das Esculturas. Em 2018, o MASP apresentou uma importante retrospectiva da obra do artista.

Suas obras estão em inúmeras coleções permanentes, tais como: MoMA – NY, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte de Brasília, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Museu Afro Brasil, Colección Patrícia Phelps de Cisneros, Coleção Adolpho Leirner, Gem Houston, entre outros.

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