lusco – fusco Patricia Leite

Apresentação

A exposição de Patricia Leite lusco-fusco apresenta um novo corpo de pintura inspirado em encontros momentâneos de escuridão e luz. Convidando-nos a captar a sensação de um objeto em chamas, Leite retrata a luz viva com a vibração, ao mesmo tempo visualmente tangível e sentimentalmente fugaz.

As pinturas de Leite resultam de um "caderno de desenhos" de fotografias, semelhante à um diário visual coletado de várias fontes. Essas imagens referenciais apresentam um ponto de partida para o tom e forma de cada pintura. Como Leite elabora o sentimento que a inspirou a abordar cada cena, ela abstrai e experimenta livremente para chegar a uma tristeza lúdica, onde massas suaves de cor estão aparentemente suspensas em contornos ágeis de uma luz cortante.

Em obras como Veneza (2018), Leite capta a essência de uma paisagem familiar, transformando-a em uma cena icônica, instantaneamente reconhecível, bem como uma memória manifestada intimamente. Enquanto sussurros tímidos de luz se tornam preciosamente transitórios sob um imenso céu e mar, Leite ativa tanto uma poesia pessoal quanto uma poesia arquetípica.

A pintura que dá nome à exposição, lusco-fusco (2018), apresenta um ponto no tempo que sempre paralisou a artista; quando a lua se levanta sobre os raios do pôr-do-sol e o dia não está nas trevas nem na luz. Este panorama melancólico permite que o calor e a luz do sol do dia se dissolvam no céu noturno em uma fumaça de pinceladas líricas que ecoam a densa folhagem abaixo. O encontro desses dois campos de cores é mediado por uma pequena lua brilhante que fica na fronteira entre eles.

Inspiradas em parte pelas recentes viagens da artista pela Europa e pela residência que realizou em Bruxelas, essas obras seguem a progressão formal de Leite ao encontrar novas paisagens, além de uma renovada afeição por sua paisagem nativa de Minas Gerais, Brasil, depois de tantos meses no exterior. Essas geografias justapostas deixam traços de humor à medida que são apresentadas lado a lado. Obras como a “Jabuticabeira” (2018), que leva o nome de uma árvore brasileira coberta de frutos em forma de bola, na verdade retratam árvores na Holanda cobertas de luzes redondas de Natal. Em trabalhos como esses, a sensibilidade sutil de Leite e o manuseio técnico da tonalidade se tornam tão marcantes.

Começando suas pinturas em um fundo branco, Leite lança camadas de sombra em torno de pontos de luz para construir a forma. “Jabuticabeira” (2018), portanto, começa com centenas de pequenos brotos amarelos, com árvores escuras adicionadas posteriormente em torno deles. Leite escurece suas telas seguindo uma progressão de luz natural, chegando apenas a um céu nublado e cinza depois de compor uma extensão azul abaixo dela.

Como Leite meticulosamente cava a escuridão da luz para criar profundidade, os destaques da pintura atravessam diretamente as muitas camadas de matizes sintetizadas. Leite carrega ainda mais esse ponto de contato entre a luz e a escuridão, cuidando atentamente dos pequenos deslizamentos de cor que escurecem as bordas de uma lua branca ou um horizonte banhado pelo sol, imitando o efeito ótico da cor com a mistura de luz. Em Moonlight Mood (2018), esses contornos eloquentemente desfocados encontram uma escuridão aveludada enquanto o olho do observador se lança de forma fluida da superfície saturada da pintura para o branco das luzes. Criando uma sensação vibrante e luminosa, esta técnica pictórica torna o gesto formal, conceitual e narrativo na pintura de Leite.

Aqui, a luz é animada, viva, aparentemente pulsando ou se movendo à nossa frente. Em sua fusão de efeito visual e afeto emocional, Leite nos permite perceber esse momento flutuante, quando uma luz preciosamente efêmera se encontra e dança com a forma.

Patricia Leite (Belo Horizonte, 1955) vive e trabalha em Belo Horizonte.

Suas obras participaram de mostras coletivas institucionais como Mínimo, múltiplo, comum, Estação Pinacoteca, São Paulo (2018); Aprendendo Com Dorival Caymmi - Civilização Praieira, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); The Circus as a Parallel Universe, Kunsthalle Wien, Viena (2013); Procedente, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2008).

Obras
Vistas da exposição