Circa MMXVI Obras inéditas e algumas conhecidas Anna Bella Geiger

Apresentação

Nesta mostra procuro estabelecer certas correspondências de ordem ontológica nas minhas obras atuais com algumas bem anteriores‭.‬‭ ‬Isto é‭, ‬apesar dessa mostra incluir na sua maioria obra inéditas‭, ‬elas possuem sintonias de outros tempos‭.


‬Por exemplo‭, ‬ao criar os dois novos ovais Macios que são pintura e bordado sobre tela‭, ‬trago obras dos anos 1970‭, ‬da fase Lunar‭,‬‭ ‬assim como gravuras da série Local da Ação‭, ‬de 1979/1980‭. ‬Nelas‭, ‬o planisfério com sua forma oval‭, ‬volta nos Macios‭. ‬


Acho que tanto formal quanto conceitualmente‭, ‬eles ressurgem na poética de cada artista que a desenvolve de forma absolutamente pessoal‭.‬Se isto quer significar‭ "‬coerência‭" ‬só no seu sentido formal‭, ‬não é do que estou falando‭. ‬Há uma conjunção onde o sentido conceitual precede as questões de sentido puramente formal‭. ‬


– Anna Bella Geiger

Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a segunda mostra individual de Anna Bella Geiger na galeria‭. ‬Geiger é pintora‭, ‬gravadora‭, ‬desenhista‭, ‬artista intermídia‭, ‬professora e quase escultora‭. ‬Em 1953‭, ‬a artista participa da 1ª‭ ‬Exposição Nacional de Arte Abstrata‭, ‬no Hotel Quitandinha‭, ‬em Petrópolis‭, ‬Rio de Janeiro‭. ‬Após uma pausa na atividade artística‭, ‬motivada pelo ingresso na Faculdade Nacional de Filosofia e viagem de estudo aos Estados Unidos‭, ‬Geiger frequenta o ateliê de‭ ‬gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro‭, ‬de 1960‭ ‬a 1965‭. ‬Anna Bella iniciou sua pesquisa com base no Abstracionismo Informal‭. ‬Ligando-se a caminhos que se desdobram em imprevistos entre o exercício da subjetividade e o rigor na profunda compreensão formal‭, ‬caminho percorrido também por De Kooning‭, ‬F‭. ‬Klein‭, ‬Motherwell e Rothko‭, ‬entre outros‭. ‬

De 1965‭ ‬em diante‭, ‬em uma fase bastante dedicada à gravura em metal e ao guache‭, ‬Anna Bella Geiger passa a desenvolver uma figuração que o crítico Mario Pedrosa denominou de Fase Visceral‭, ‬levantando consigo questões‭. ‬Em 1969‭, ‬novamente em Nova York‭, ‬ministra aulas na Columbia University‭, ‬retornando ao Rio de Janeiro em 1970‭. ‬Nos anos 1980‭, ‬recebe uma bolsa da John Simon Guggenheim‭ ‬Memorial Foundation‭, ‬em Nova York‭. ‬Em 1987‭, ‬publica‭, ‬com Fernando Cocchiarale‭, ‬o livro Abstracionismo Geométrico e Informal‭: ‬a‭ ‬vanguarda brasileira nos anos cinquenta‭. ‬

Nos anos 1970‭, ‬sua produção assume um caráter experimental‭, ‬que ela afirma ser o único modo da arte‭. ‬Ela passa a ter a necessidade de utilizar outros meios‭, ‬tais como a fotomontagem‭, ‬fotogravura‭, ‬xerox‭, ‬Super-8‭ ‬e vídeo‭. ‬Com os seus trabalhos audiovisuais de forte intenção política‭, ‬Anna Bella encontra-se em uma posição praticamente única no meio da arte‭, ‬pois seu trabalho‭, ‬tendo passado pelo moderno‭, ‬chegou ao contemporâneo de forma bem-sucedida‭. ‬As questões abordadas em suas obras dos anos 70‭, ‬por exemplo‭,‬‭ ‬ainda são incrivelmente relevantes‭, ‬tanto as produzidas agora quanto as anteriores‭. ‬Ao levantar questões que irão compor a contemporaneidade‭, ‬as obras de Geiger aproximam a arte do pensamento crítico‭. ‬Percebendo questões sociais‭, ‬como a burocracia e o uso‭ ‬da imagem feminina‭, ‬além de uma observação aguda do cenário artístico‭, ‬a artista tomou um lugar pioneiro na vídeo-arte‭.  ‬

A partir da década de 1990‭ ‬até os dias atuais‭, ‬Geiger continua empregando materiais diversos‭, ‬como na produção dos Fronteiriços‭,‬‭ ‬formas cartográficas dobradas em cobre‭, ‬dentro de caixas de ferro ou gavetas‭, ‬que permanecem isoladas por meio da encáustica‭. ‬Sua poética situa-se entre a pintura‭, ‬o objeto‭, ‬a gravura‭, ‬a escultura etc‭. ‬Seus trabalhos cartográficos procuram a eficácia da verdade da geopolítica‭, ‬onde ela lida com questões como a relação entre a hegemonia cultural e política‭. ‬Investigar e agir sobre‭ ‬a representação cartográfica pode implicar em uma possível ação direta sobre as relações de controle‭. ‬Talvez seja preciso existir um mapa diferente para um mundo diferente‭. ‬Observamos que a sua cartografia é muitas vezes elaborada do ponto de vista marginal em relação ao significado do que é centro do mundo‭. ‬

‭Anna Bella Geiger‭ (‬Rio de Janeiro‭, ‬1933‭) ‬vive e trabalha no Rio de Janeiro‭. ‬As suas mostras‭  ‬incluem‭: ‬Geografía Física y Humana‭, ‬Centro Andaluz de Arte Contemporáneo‭, ‬Sevilha‭ (‬2016‭); ‬Transmissions‭: ‬Art in Eastern Europe and Latin America‭, ‬MoMA‭, ‬Nova York‭ ‬‭(‬2015‭); ‬Anna Bella Geiger and her students‭, ‬Videos‭, ‬Ciclo‭: ‬On the Edge‭: ‬Brazilian Film Experiments of the 1960s and Early 1970s‭,‬‭ ‬MoMA‭, ‬Nova York‭ (‬2014‭); ‬América Latina Photographs‭, ‬Fondation Cartier‭ (‬2013‭);‬Vidéo Vintage‭, ‬Centre Pompidou‭, ‬Paris‭ (‬2012‭); ‬Modern Women Single Channel 5‭ ‬Artists‭, ‬MoMA PS1‭, ‬Nova York‭ (‬2011‭); ‬Adding it up‭: ‬Acquisitons 70-95‭, ‬MoMA‭, ‬Nova York‭ (‬1995‭); ‬39ª‭ ‬Bienal de Veneza‭, ‬Veneza‭ (‬1980‭) ‬PROSPECTIVA 74‭, ‬Museu de Arte Contemporânea de São Paulo‭, ‬São Paulo‭ (‬1974‭); ‬7ª‭ ‬Bienal de São Paulo‭, ‬São Paulo‭ (‬1963‭).‬

Obras
Vistas da exposição