Leah Ke Yi Zheng

Apresentação

A Mendes Wood DM Bruxelas tem o prazer de apresentar a primeira exposição individual de Leah Ke Yi Zheng na Europa. Zheng (n. 1988) cresceu em Wuyishan, na China, onde, desde pequena, foi aprendiz de técnicas tradicionais da pintura chinesa. Estabelecendo uma relação dialética com essa tradição, ela desenvolveu uma prática pictórica que incorpora abordagens antigas chinesas semelhantes às técnicas de "caligrafia espiritual" e "imagem da mente" de Wang Xizhi, juntamente com sua própria resposta formalista a artistas ocidentais, incluindo Hilma af Klint, Fra Angelico e Blinky Palermo. Embora muitas vezes mantenha um diálogo intelectual e estético com essas tradições e figuras, suas obras são, para a artista, igualmente "envolvidas em sua solidão, assim como nós, enquanto indivíduos".

As pinturas de Zheng requerem uma observação atenta que leve em consideração sua feitura. Começando com uma abordagem um tanto anárquica, as molduras de madeira feitas pela própria artista são guiadas pela intuição, assumindo formas distintas – ligeiramente estranhas, em formato de paralelogramos que desviam da norma retangular. Essas molduras determinam as imagens na tela, equilibrando a irregularidade das formas. Materiais como seda e madeira, incluindo mogno, pau-roxo e cerejeira, servem não apenas como suportes, mas como metáforas para camadas de memória e observação. Enquanto as sedas são leves, translúcidas e evanescentes, a madeira é pesada e quente.

Fazendo escolhas em relação à distância de visualização e temas, bem como variando a transparência da tinta incorporada à tela de seda, Zheng assume o controle das camadas de legibilidade em suas imagens. Influenciada pelo filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han, a transparência é um elemento técnico e conceitual recorrente na obra de Zheng. Por meio de jogos de legibilidade, ilegibilidade e memória, a artista brinca com as percepções do espectador em relação à imagem e objeto.

De acordo com o processo pelo qual Zheng aborda o conceito de  "Monadologia" do filósofo e matemático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, cada trabalho reflete um momento em si, ao mesmo tempo em que sugere uma interconexão universal. Isso lança luz sobre a compreensão da artista sobre seus trabalhos em diálogo uns com os outros. Em Sem Título (Janela), 2023, a ênfase está na dobra de formas orgânicas efêmeras, enquanto em Sem Título (Máquina de Cálculo de Leibniz), 2024, a precisão austera de aparatos mecânicos assume o destaque. Em outros momentos, é por meio de redes de referências – por exemplo, na série de pequenos retratos Sem Título (Riccetto de Pasolini), 2024, Sem Título (Nijinsky), 2023, e Sem Título (Homem Doente de Roger de La Fresnaye), 2023 – que Zheng usa duplicações, deleções e inversões para revelar conexões, relações e semelhanças.

Zheng reflete sobre sua prática sob a influência de temas e variações. "Tema é o termo acadêmico, mas prefiro usar a palavra forma: cortinas e dobras, o fusée (um motor do tempo), a máquina em geral e minha faixa preta que foge da vertical." Ao longo do desenvolvimento de seus trabalhos, essas formas passam por muitas mudanças – são transformadas, substituídas, alteradas e desviadas. Quando formas e variações colidem, ocorre um processo gradual de revelação, que se desdobra por meio do nivelamento da autoria e da coexistência de silêncio, quietude e energia vital.

 

Leah Ke Yi Zheng (n. 1988, Wuyishan, China) vive e trabalha em Chicago.

Zheng obteve seu Mestrado em Belas Artes (MFA)  pela School of the Art Institute of Chicago (2019), onde leciona desde 2021. Ela recebeu a bolsa de estudos 2019-2021 do The Arts Club de Chicago. Exposições recentes individuais e em dupla incluem Castle Gallery, Los Angeles (2024); David Lewis Gallery, Nova York (2023); 4th Ward Project Space, Chicago (2023); Arts Club of Chicago, Chicago (2022). Exposições coletivas recentes incluem Zeno X Gallery, Antuérpia (2023); Caffé Centrale, Monte Castello di Vibio (2022). 

 

Leah Ke Yi Zheng me pediu para escrever algo para a sua exposição, talvez porque nos conhecemos há algum tempo e temos uma relação incomum. Ela sabe que descrever seu trabalho parece uma missão impossível. Dito isso, sempre me chamou atenção o cuidado, o comedimento e a indulgência aparentemente paradoxal do trabalho de Leah. Como artista, ela adotou diversos aspectos das tradições orientais e ocidentais, principalmente ao entender como criar situações que podem levar a epifanias, seja com a arquitetura dos jardins zen ou a situação da land art – o tipo de trabalho feito para ser percorrido, visto e experimentado ao longo do tempo, em constante mudança. É fácil se sentir atraído pelo trabalho de Leah por sua abundância visual e pela forma como ele se conecta a maneiras complexas de ver o mundo e considerar seu lugar nele. Mas para entrar nesse emaranhado, é necessário começar por algum lugar, com um elemento, uma parte do todo que então inicia um caminho irregular e sinuoso, onde um espectador deve primeiro se concentrar na situação imediata do trabalho antes de chegar a um ponto onde as percepções se abrem e as possibilidades da experiência se revelam. O trabalho de Leah não é lógico, ele brinca com nossas expectativas, subvertendo-as. Seu trabalho pede ao espectador que a siga até o momento em que deixamos de lado a vontade de fazer sentido, revelando, nesse processo, uma compreensão mais profunda do que é estar presente. Isso fica evidente na divisão inerente da exposição entre os dois lados da galeria, um banhado por luz e cor e o outro mais escuro, enfatizando valor e definição. Enquanto percorremos a exposição, as diferenças se dissolvem no fluxo de seu trabalho, e isso é sentido tanto quanto visto.

— Gaylen Gerber 

Obras
Vistas da exposição